“Tem gente que não gosta de dar o saber a ninguém, eu já sou diferente”, dona Maria Antônia, 86 anos.
Aos 86 anos, Maria Antônia Ribeiro da Silva, que apesar de já não ter a mesma vitalidade de quando jovem, guarda em sua memória as boas lembranças dos momentos vividos durante a época em que ensinou dezenas de crianças carentes a ler e escrever em São Gonçalo do Amarante.
Rosto cansado e corpo franzino, marcas que expressam o desgaste físico resultado de anos de um trabalho social digno de ser aplaudido de pé. O sorriso estampado ao relembrar com carinho cada jovem que educou revela o sentimento de satisfação em ajudar o próximo.
Dona Maria Antônia mantém hábitos simples e ainda reside no mesmo local em que ensinou às crianças da comunidade. Na sala da humilde da casa, local em que as aulas eram realizadas, ficou emocionada ao reviver a época de juventude.
Com 17 anos de idade e apenas o diploma de ensino fundamental concluído, montou a escolinha de alfabetização. A ideia de ensinar veio logo após o falecimento de sua mãe. “Eu sempre gostei de ensinar. Era tanta criança que algumas ficavam sentadas até no chão. Os pais que podiam ajudavam em alguma coisa, mas os que não tinham como pagar eu ensinava seus filhos do mesmo jeito. Sinto saudades demais daquele tempo”, relembra dona Maria Antônia.
Eram várias turmas que ocupavam praticamente o dia inteiro da educadora, porém o que arrecadava não era suficiente nem para manter os poucos gastos mensais, o que levou dona Maria Antônia a fazer tricô, crochê e renda ao mesmo tempo em que ensinava. “Enquanto eles ficavam fazendo as tarefas eu estava trabalhando fazendo enxovais, pano de prato e costurando. Tinha noites que ficava acordada à luz da lamparina trabalhando”, conta.
O carinho e atenção dada pela educadora são reconhecidos por todos aqueles que dela receberam ensinamentos ou que acompanharam o trabalho da professora. “Fico muito feliz quando algum aluno meu vem me visitar. É muito gratificante saber que aquelas crianças que ensinei a ler hoje estão encaminhadas na vida. Tem aluno que traz até os netos para eu ensinar. Só tenho que agradecer muito a Deus”.
Método inovador
Enquanto nas escolas ‘tradicionais’ eram adotadas práticas de repressão ao aluno, tais como a palmatória e ajoelhar no milho, na escola da dona Maria Antônia violência não eram permitida. “Tinha professor que dava palmatoria nos alunos, mas eu nunca usei de violência”.
Mesmo sem conhecimento a educadora impedia praticas de bullying. “Tem muita criança que gosta de botar apelido, né? Mas eu sempre dizia que apelido ficava fora da minha casa. Na sala de aula cada criança era para ser chamada pelo nome de batismo”.
Por fim, ressalta a importância da educação. “Todos temos que estudar para não chorar depois arrependidos”, destaca dona Maria Antônia.