Cresce no interior do PT a pré-candidatura a prefeito de Natal do Deputado Fernando Mineiro. A movimentação nos bastidores petistas parece indicar o abandono da fantasia de uma candidatura única da base dilmista. É uma situação singular. O PT natalense, desidratado em 2008, poderá, dependendo da arrumação das peças, a voltar a ter algum peso na capital do Rio Grande do Norte.
O desastre administrativo da Prefeita Micarla de Sousa (PV) redefiniu o cenário no qual se desenrolará a eleição municipal em 2012. Todos os agrupamentos políticos estão sentindo que não podem ficar de fora da disputa. Temos pré-candidaturas aos montes. Na base do Governo Rosalba (DEM), Fábio Faria (PMN) e Felipe Maia (DEM) movimentam as suas peças. Do outro lado do oásis governista, Vilma de Faria (PSB), mesmo que sem a garra e os apoios de antes, tentará se recuperar do revés de 2010, quando, após oito anos como governadora, foi derrotada na corrida para uma das vagas ao Senado. E tem Carlos Eduardo Alves (PDT), ex-prefeito, bem avaliado nas sondagens eleitorais. Rogério Marinho (PSDB) e Wolber Jr. (PPS) também podem entrar na disputa. Não se pode excluir a candidatura da Prefeita Micarla de Sousa (PV), que terá a obrigação moral de entrar na disputa para defender a sua gestão.
Diante dessa balcanização (de Bálcãs, ok?), o que o PT poderá fazer? Entrar como força auxiliar de Carlos Eduardo ou Vilma? Para quê? Tentar costurar uma insustentável candidatura única da base dilmista no RN? Se esse caminho já era non sense em 2008… A repetição do “acórdão” em 2012 não seria uma farsa tragicômica. Além do mais, Fernando Lucena, o único vereador da legenda (a decisão desta semana do STF, muito corretamente, vai lhe devolver o mandato), não tem vocação para kamikaze. Em nome de que valores iria o nobre edil cometer dois haraquiris políticos?
Com a oposição lambendo as feridas de uma derrota que é mais política do que eleitoral, a base rosalbista anda com tanta confiança e com salto tão alto que sonha com um cenário no qual, em um primeiro turno, dois dos seus peões (Fábio Faria e Felipe Maia) desfilarão para a avaliação do distinto público. Trata-se de uma disputa surda por espaço. Em jogo, sabem até as pedras palacianas, está a posição que cada sub-grupo terá na disputa de 2014. O controle da prefeitura da cidade do Natal ajuntaria um capital excepcionalmente grande a um deles e o guindaria à condição de timoneiro da reeleição de Rosalba. Não é algo meio delirante se falar, no início de 2011, a respeito da eleição de 2014? Pois sim! No mundinho da disputa política, ao contrário do nosso, os marcadores temporais são as eleições… e o controle das máquinas que elas representam.
Nesse cenário, o que o PT pode fazer? Pode, caso não queira se apequenar na condição de coadjuvante de uma força política em fase outonal, construir uma candidatura que, encimada por um conjunto de proposições políticas substantivas, busque acordar (e estabelecer uma diálogo franco) setores fundamentais da vida social local. Para tanto, sem maniqueísmo e sem o oba-oba da ação política dominada pelo marketing e seus slogans fáceis, abordar, desde já, um conjunto de temáticas centrais para a vida urbana na “Cidade do Sol”.
Esse não é um caminho fácil. Nos dias que correm, o PT do RN distanciou-se de muitos daqueles que não apenas seguravam as sua bandeiras, mas também queimavam pestanas tentando formular desconsiderados “planos de governo”. O amesquinhamento da vida política partidária afastou muitos dos que tem olfato mais sensível, isso é verdade. Em conseqüência, para re-articular uma base, a partir de agora, para dar sentido a uma candidatura, o PT deve calçar as sandálias da humildade, respirar fundo e buscar, sob perspectiva distinta daquela afirmada sempre por sua trajetória instrumentalizadora, buscar terrenos sociais para lançar suas âncoras.
Um primeiro passo é desenvolver todo um esforço para construir proposições técnicas embasadas politicamente (dado que fruto de conversações com os atores políticos da cidade) sobre as dimensões urbanas afetas a uma gestão municipal qualificada. E isso tem que ser construído a partir de formulações que deverão se apresentar desde já. O porta-voz dessa política deverá realizar, em um primeiro momento, um trabalho intenso de escuta (mais do que fala). Ao mesmo tempo, deverá sinalizar algumas possíveis saídas para alguns dos dilemas maiores que afetam a vida dos natalenses hoje e que tendem a se agravar em um futuro próximo.
O cenário está longe de ser ideal, convenhamos. As gestões locais nas capitais, pelo país afora, estão bem mal avaliadas. Há algo de fundo que necessita uma análise mais substancial, mas, pode-se especular, essa percepção negativa dos prefeitos está relacionada com o agravamento da crise urbana brasileira. Paradoxalmente, o crescimento econômico dos últimos anos ao invés de amainar aprofundou e explicitou alguns dos nossos problemas estruturais. Do saneamento básico à mobilidade urbana passando pela saúde e a educação. Prefeito de capital mal avaliado é o que não falta. E com uma amplitude partidária que vai da petista Luiziane Lins ao ex-demista Kassab.
O Deputado Fernando Mineiro está qualificado para desempenhar essa difícil missão. Para conseguir enfrentá-la, entretanto, necessitará de uma base de apoio interna sólida. Essa não é uma tarefa individual, fique claro. O PT, engolfado nas suas disputas, conseguirá dar sentido a esse projeto? Não sei! Para ser sincero, eu não aposto todas as minhas fichas nessa jogada…
Mas, aí é que está o nó, hoje, para o PT, construir essa candidatura é o caminho para não ser alijado da disputa política real.
A candidatura de Fernando Mineiro à prefeitura da Cidade do Natal já tem um sentido, aquele que é dado pela trajetória desse ator político. Precisa de outros sentidos. O PT local, caso se oxigene com a vida que pulsa sob o aparente adormecimento das forças sociais da capital do RN, poderá fornecer outros. E esses sentidos, como os nós de uma grande rede, poderão redefinir uma história política que, como um enredo de Gabriel Garcia Marquez, parece condenar os natalenses a não terem uma segunda chance.
Texto de autoria do professor Edmilson Lopes